Sobre café, Itu e poesia

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Em 2005, meu amigo, poeta e professor Emerson Sitta me chamou para tomar um café na cidade de Itu – que eu cismava em botar acento, “Itú”, porque achava feio ter uma sílaba tônica sem o devido acento. Ir só podia ir de ônibus, fui, cheguei e esperei sentado no banco, até que meu amigo aparecesse com seu Golzinho branco, velhinho.
Eu, que já tinha visitado de passagem a cidade, ainda criança, dei outra volta pelas ruas do centro, que cismava em querer tudo grande, “uma bobagem”, dizia meu amigo ituano, ali tinha tudo mais a ver com o movimento republicano e que tais sanhas políticas que foram esquecidas, como minhas infantis lembranças de caixas de fósforos e lápis gigantes. Até eu senti orgulho de ser ituano, mas não muito grande porque podia parecer ofensa ou que eu estava caçoando.
Acho que era dia de semana, a bela esposa dele estava trabalhando, mas apareceu na hora do almoço. Bom, se falo dela é porque tinha que dar essas duas informações, ela é muito bonita e eu passaria o resto do dia com meu amigo casado, falando de poesia – as tantas inspiradas pela esposa –, política, futebol essas coisas cheias de detalhes; mas, vá lá, pouparei o caro leitor de todos eles.
Verdade é que fiquei muito calado o dia todo, coisa complicada para mim, eu admito, mas pude documentar o processo criativo desse meu amigo poeta: as folhas de sulfite em branco em que ele fabricava poemas, versos, estrofes ou apenas uma palavra; escritos num papel em caneta preta, os sons do rádio - alguma MPB, tocou também um rock – tudo parecia co-escrever alguns versos sem som.
Logo, esse meu amigo professor, me fez passar em revista uma fileira de livros fora de padrão, em seus uniformes multicoloridos, divisas em linhas inconsistentes, em vez de medalhas, palavras cifradas e dependuradas nos peitos, depois dessa prateleira a outra, todos ali de prontidão.
Eu e meu amigo crítico discutimos alguma crítica, dessa crítica literária que anda sumida dos jornais, das revistas, até da Internet, coisas de irmãos Campos. Um tipo de crítica que era ativa ou “criativa”, como queira.
Dali um tanto, ainda naquele escritório que era para ser quarto, mas que era todo de livros e de um computador, meu amigo escritor foi me mostrar um escrito que há anos ele tentava publicar, tinha recebido alguma resposta negativa que nem me lembro mais de quem, mas me lembro, sim, era “O Melhor é Sempre”. Ele explicou: “não agora, não rápido, mas sempre”.
Voltando de Itu, eu li todo o livro. Não foi difícil ver como ele encaixava bem em algumas palavras soltas nos papéis em branco do meu amigo poeta, nos títulos dos livros do meu amigo professor, no sorriso da bela mulher do meu amigo casado, nas aulas da especialização que fiz com meu amigo crítico, na história toda dessa cidade, Itu, merecedora daquele acento que a gramática tinha tirado.
Foi mesmo um dia bem atípico, falei pouco, registrei muito; e esse registro e essa leitura compulsórios que me fizeram escrever a contracapa do livro “O Melhor é Sempre”, que chega ao público, justamente, na Bienal do Livro de São Paulo, nesse mês de agosto (abaixo, vem o convite; acima, no post seguinte, o texto que escrevi para a contracapa).

A propósito, o café foi um dos melhores que já provei.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, Mestre Conrad.
Fiquei sabendo deste lançamento pelo seu blog e estarei lá para prestigiar nosso amigo poeta. Ainda não tenho o livro, por isso, que coisa melhor do que adquirir um já autografado? Além, é claro, de poder participar pessoalmente deste momento tão especial, de muita alegria.
Forte abraço!