Sobre aquilo que o filme Blindness esqueceu...

“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.”
(Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, p. 310)

2 comentários:

Anônimo disse...

Conrad,
você acha mesmo que o filme esqueceu isso? Tenho, para mim, que a idéia foi deixada no ar na última frase do filme, na cena em que filma-se o céu e a Julianne Moore pensa que está ficando cega.

Fazia tempo que não comentava nada, mas quero deixar documentado que entro sempre para ler o que escreve!
Beijos..

Conrad Pichler disse...

Oi, Nina! Que felicidade "ler" você por aqui! Estava sentindo falta dos comentários, perguntas, etc...

Quanto ao filme, acho que ele acabou "um minuto" antes do fim, exatamente a frase final, narrada pelo Dan Glover, é o parágrafo anterior a esse que eu escrevi aqui.
A mulher do médico não fica cega de fato, ela tem uma espécie de epifania e percebe que todos já estavam cegos antes de sofrerem dos olhos que, de fato, não era o "problema", a cegueira já existia e era outra e não dos olhos, esta que, paradoxalmente, apenas revelou àquela anterior.
No filme, eles se concentraram demais na cegueira, que deixou de ser o mal-branco (indefinível cegueira clara que ilumina e não oculta) e virou "um tipo de agnosia", algo que pudesse ser diagnosticada e tratado, "comum" doença do corpo.
Enfim, acho que o filme, enquanto adaptação, perdeu o fio da meada do romance, a alegoria ilimitada da cegueira pós-moderna e virou relato naturalista de uma cegueira física.

Mas, em tempo, ainda acho o filme muito bom, foi um dos três mais interessantes que vi esse ano, mas, tenho que não comparar com o livro.

Abraço,
Conrad