Playing it again: Eu sei que não devia dizer...

[Retornei ao mundo virtual, com esse blog, no qual publicarei meus textos e de alguns amigos: "Doces Revoluções[?] - Jam Sessions"]

ENCOSTEI meu rosto na porta esperando aquela pequena passagem direta e ver teu rosto suave rir.
Peguei aquela luz laranja no teu rosto e aquele teu olhar, fim de tarde, vento no cabelo solto. Tive fé que fosse comigo. Queria eu, teus ombros acolheriam minha cabeça. Mas os olhos do menino dormiam suave e não era eu. Você não sorriu, não me disse nada, apenas me apanhou furtando um momento teu, isso me ligou a você, mas não você a mim, não necessariamente. Foi por tanto tempo que aquela tarde caiu, o tempo que leva para eu cair do alto do muro e o vento sentir o sabor do teu rosto. E eu sentir o suave perfume: esse suave perfume que brinca de adivinha comigo e, mesmo sem olhos, sei de ti.
Veio de longe, um virar de rosto e perceber que eu te percebia. Aquele sorriso suave ganhar vida, enquanto eu cantava uma canção antiga. E mesmo sem motivo nenhum, tu vieste aproximou-te de mim, tocou meu ombro, sem razão alguma. Da mesma forma, encostei minhas costas no meu muro, sob o sol de uma conversa amiga. E ao passar, tornastes para ver-me, e não permitiste a ti tal gesto e recolheu-te.
Percebi o quão silencioso são teus fatos. É a luz e o vento que fala de teu rosto, é teu perfume que me fala de teu corpo. Eu acreditando nesses sinais, nesse código que pode ser tão mentiroso, quanto tudo mais que me engana, como, mesmo, as tuas palavras: sempre repousados em terceiros, nunca na sua profundeza. Por isso, tive medo de afirmar diante de minha imagem no espelho, existe mais de mim em você do que palavras a testemunhar.
Caminhamos juntos na rua, teus passos sinuosos encontraram com os meus, algumas vezes, e nos tocamos de ombros. Enquanto tuas mãos empenhadas em gestos, testemunhavam você. Eu testemunhava esse teu existir largo, quanto teus passos, que subitamente diminuíam, aproveitando o tempo, aquela conversa sobre a racionalidade do teu amor, que não é amor, me perdoe.
Você não sabe, não conhece, não experimentou o que eu chamo de amor. Isso quebraria o teu silêncio, pois teria em ti o que encontro no ar, nas luzes e no vento a teu redor, que você mesma não quer ver. No teu sorriso, nos gestos, no toque suave, no teu rosto, mãos, teu corpo todo, você teria em mim mais coisas suas do que poderia testemunhar. E tuas palavras encontrariam origem em teu coração, lugar donde brotaria uma fonte d’água que jamais seca e alimenta a candeia que jamais se apaga, que nunca se encontra escondida, mas colocada em alto lugar, para que todos possam ver. Que enfim, seria toda você, como você é.
Enfim, tudo é simples, eu não devia dizer... mas, eu te amo.

[Conrad Pichler, 26 e 27 de agosto de 2005]

Um comentário:

Conrad Pichler disse...

Olá, Emerson.
Morto? Não sei se estou... acho que perdi um pouco a noção desse gênero. Assim como não sei qual denominação se aplicaria a esse texto. Sim, é um texto passional e verdadeiro... mas, agora, é um ficção, porque a cristalizei numa ficção, qual nome dar?
Tentei seguir a linha da sensação, da percepção que me era mais forte do que o raciocínio ou, mesmo, do sentimento, afinal, amor platônico é para Platão, somos “puquianos” e aristotélicos. Tentei seguir aquele fio analógico que você percebeu, a justaposição propositada. Porque tentei deixar de lado os fatos catalíticos e me concentrei nas ações-funções (ou eu dei função as ações catalíticas?).
E você acertou, no fim, em tudo, é uma oração, aquela que faço todas as noites, todos os dias, na espera que um anjo diga amém e deixemos de ter cristais e voltemos a ter água...
No mais, fiquei curioso por saber qual seria essa música que tu cantastes como um mantra, qual seria?

Obrigado pelo comentário! ;)