[COLUNA-SITTA]:É a parte que me cabe (eu sei que é), difícil é aceitar

[Mais um texto de um grande amigo, Emerson Sitta, poeta e professor. Este era o último texto de [COLUNA-SITTA], que não pode ir ao ar no antigo DR[?], no entanto, é mais preciso agora do que jamais foi.]

SINCERAMENTE o que me faz ser homem não sei exatamente dizer. A ciência não me serve mais, nem ela parece me ajudar. Será que sou racional? E se for racional, por isso sou homem? Mas estava tão certo que a minha conduta não é racional, mas emocional. Não, devo estar enganado, não tenho certeza, mas a minha postura é racional. Esta postura é racional.
Sinceramente o que me faz ser homem é ter sempre a dúvida, o mistério, a questão é se estou sempre acertando ou não. Não posso esconder a fé, ocultar o desejo, não posso negar meus pensamentos, não poderei morrer antes de ser alguém. Será que sou alguém? Se é a dúvida que me faz ser homem, posso dizer que sou. Mas será que posso dizer que sou homem com "h" maiúsculo?
Ciência, religião, filosofia, elementos individuais, restritos. Errado. Posso ser cientista, religioso e filósofo. Posso estar do seu lado agora mesmo, pelo pensamento, posso mais ainda, posso estar nos seus sonhos. Não quero parecer pretensioso, mas uma palavra que eu diga de modo estranho (o que é estranho?) pode te perturbar por um bom tempo. Ora, se pensei em dizer, fui cientista, se tentei mostrar um novo caminho, fui religioso, e se te fiz pensar, meu caro, fui filósofo. Será que esses elementos todos estão apenas em mim ou em qualquer um de nós?
Esses elementos certamente deveriam fazer parte da formação de qualquer cidadão. Olhe bem o termo que utilizei, qualquer, quer dizer indiscriminadamente, ou seja, deve atingir a todos os cidadãos. Não seria isso puro demais para a nova vida, para o nosso planeta, para a nossa sociedade? E o Brasil? Boa pergunta, mas quero a boa resposta. E agora complicou, complicou mesmo. Quem é que pode me dizer o que precisamos fazer para salvar este país?
O povo não pode me responder, não é capaz cientificamente de me responder, não pode entender, compreender ou qualquer que seja o termo mais apropriado. Negaram ao povo, com maldade, desafiando valores religiosos, a sabedoria, a ciência e a filosofia. É difícil manter um discurso racional neste momento, mas vamos tentar.
A mensagem é uma só, somente uma, única: nem a intelectualidade mais intelectual (desculpem o pleonasmo) consegue explicar o que somos, o que fizemos e o motivo da nossa estagnação social. Acredito cegamente que alguns podem entender, mas não conseguem explicar. Nossa história é muito complexa, e não sabemos se está toda descoberta.
Não estaríamos vivendo o caos, um ponto de passagem, de mudança? Ora o povo sabe apenas o que todos são capazes de entender, de ver e de sentir: que todo mundo rouba. Todo mundo que está em Brasília parece pensar apenas em próprio beneficio, mais nada. Foi Severino quem ensinou isso ao povo. O Severino, aquele nome que representa o povo, o sofrimento do povo, da morte e da vida severina. Quando colocou as mãos no poder, um poder relativo, tentou aumentar seu salário, não precisamos comparar o aumento, que todo mundo sabe. Mas o Severino elite não desistiu, em surdina aumentou a verba de gabinete, que ninguém sabe para que serve, nem para onde vai tanto dinheiro.
Bom, voltando a ciência e deixando um pouco de lado a emoção, temos que fechar nosso texto. Certamente as qualidades de filósofo, cientista e religioso deveriam fazer parte da formação do brasileiro, para que o mesmo comece a pensar sobre a sua situação, e melhor que pensar, discutir. Mas como pensará o nosso Severino povo se não lhe deram sequer uma letra bem desenhada, e pior quando o Severino povo pergunta o Severino elite responde sempre que vai pensar, vai avaliar e logo dará a resposta.
E todos nós somos homens, com h ou sem h, pois o mesmo não tem som. Mas somos homens porque temos a dúvida, mesmo o mais inocente ser racional ou o mais maltratado ser tem dúvida. A questão é que alguns transformaram a resposta da dúvida em temor. E ainda que sejamos emotivos com mais força nunca seremos irracionais. É um pensamento cientifico, é só somar dois com dois, mas cuidado, às vezes o resultado é cinco.

[Emerson Sitta, 2005]

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