Anotações

[Este texto devia ter saído pelo antigo DR[?], porém, não sei porque, não foi possível... agora, cumpro minha palavra. O primeiro texto de meus convidados.]

DIA 1
Acabei de coletar o meu sangue. Está tudo pronto pra separação do DNA. Os óvulos doados estão apenas esperando para serem "fecundados". Estou bem animado, vai dar tudo certo.

DIA 87
Após várias tentativas frustradas, um embrião foi formado. Esse método devia ser melhor aperfeiçoado. Agora ele está lá, no útero artificial que desenvolvi, crescendo...

DIA 164
Os exames deram tudo OK. Ele é normal, como eu. Não sei porque me preocupei tanto, já que ele terá o que eu tenho. Afinal, é uma cópia. Apenas isso.

DIA 250
Ele está pronto. É perfeito, totalmente desenvolvido. 3 Kg e 200g. Mal teve tempo de chorar. Coloquei-o na câmara de crescimento acelerado. É a fase mais crítica e inesperada do experimento. Nessa hora tudo pode ir por água a baixo. Mas já valeu a pena, eu o segurei no colo.

DIA 255
Uma criança está diante de mim. E cresce tão rápido. Consegui fotos de quando eu era desse tamanho. Parece que são momentos dele e não meus. Começo a ter uma sensação esquisita em relação a ele.

DIA 280
Um jovem, quase adulto. Com a aparência de quando comecei a me interessar por genética. Vou tirá-lo da câmara amanhã e não sei o que vai acontecer. Será que ele tem alma? Vai conseguir aprender o que eu lhe ensinar? Espero que os estimulantes cerebrais façam efeito. Estou me sentindo como um pai preocupado.

DIA 290
Hoje ele aprendeu as formas e as cores. Impressionante a velocidade com que seu cérebro absorve as informações. Amanhã iremos conhecer as letras do alfabeto. Tenho orgulho do meu filho.

DIA 312
Cantamos o Hino Nacional e falamos sobre o mundo. Ele quer conhecer tudo lá fora e está muito empolgado. Planejamos uma viagem juntos. Chegou a hora de contar como ele nasceu. Tenho medo, mas estou confiante que tudo dará certo. Afinal, somos pai e filho. Uma família.

DIA 313
Ele está morto.
Eu o matei.
Matei meu próprio pai. Meu criador.
Agora sei o que sou e não pode haver dois de mim.
Tudo está claro na minha mente.
O mundo lá fora me espera.
Mesmo sabendo que não me aceitariam se soubessem da verdade, vou ser parte dessa sociedade.
Encontrei essas anotações e resolvi concluí-las. Quem ler isso, por favor, não me culpe. Foi questão de sobrevivência.
Adeus, vou viver.

[Por Leonardo Marcello, s./d.]

Um comentário:

RPGabriel disse...

CARACA! Mano.. que texto loco!!! Adorei mesmo!

Conrad.. tamos aí. Entra no meu blog tb: www.acabouopapel.blogspot.com

Abraços!

Rony Gabriel