
Um pardal passou baixo nas flores de ipê amarelo-sempre-vivo. A tarde já estava alta quando o ônibus cruzava o caminho de volta para casa. Eu me estiquei o mais que pude no “nicho” em que estava metido. Observando ao lado as pessoas dormindo, tentei fazer o mesmo, mas não conseguia.
Percebi, então, que não estava sozinho, estava acompanhado de uma porção de ipês e de uma planície verde-toda-vida. Alguém, meio-sonâmbulo, colocou um cobertor sobre a jovem que dormia profundamente em seu ninho de menina, ela não deve ter percebido. Ele também encobriu outro amigo de viagem, ali ao lado, eu sorri envergonhado, não queria cobertor, mas, estava mexido por aquele gesto simples. Poderia ter poupado o sono dos três, já que estava destinado a ser a sentinela daquela viagem.
Dali a pouco estava encoberto pelo sol dourado-de-adeus que aquecia o fim do dia. Era tão silencioso aquele momento, achei que nem eu devia estar ali. Mas, meu coração batia por algum motivo, batendo asas e planava por todo aquele lugar. A estrada era longa por entre cidades de pessoas imersas no domingo passageiro, como nós, passageiros dentro do ônibus de retorno. Ainda estou emaranhado naqueles grandiosos ninhos de agricultura, árvores selvagens e casas seculares.
Zombei sem-palavras do motor do ônibus e seu feitio de excluir o som do pardal que revoava as voltas com meus olhos. Desisti de entender porque esconder os ouvidos sobre o fone dos aparelhos de rádio, excluindo o canto do pardal em vôo. Homens são motores de ônibus.
Os rochedos metidos na terra vermelha-sangue-escravo e as flores de ipê amarelo-sempre-vivo mediam força num canto do arco-íris, assim como a estrada e toda sorte de matizes digladiavam ali embaixo das rodas de borracha.
Eu queria vigiar o sono dos meus amigos, como os pardais são eternas sentinelas daquelas terras antigas. A sentinela que voa alto. Cantando a canção preferida. Aquecida pelo sol laranja-espero-o-amanhã.
A noite já caiu e todos acordaram. Nossa viagem ainda não chegou ao seu meio, a estrada é longa, a esperança é preferir ser sempre o melhor.
[Conrad Pichler, agosto de 2006. Depois da viagem Ouro Preto-São Paulo.]
***
I'd rather be a sparrow than a snail
Yes I would, if I could, I surely would.
I'd rather be a hammer than a nail
Yes I would, if I only could, I surely would.
Away, I'd rather sail away
Like a swan that's here and gone
A man gets tied up to the ground
He gives the world its saddest sound
Its saddest sound.
I'd rather be a forest than a street
Yes I would, if I could, I surely would
I'd rather feel the earth beneath my feet
Yes I would, if I only could, I surely would.
Yes I would, if I could, I surely would.
I'd rather be a hammer than a nail
Yes I would, if I only could, I surely would.
Away, I'd rather sail away
Like a swan that's here and gone
A man gets tied up to the ground
He gives the world its saddest sound
Its saddest sound.
I'd rather be a forest than a street
Yes I would, if I could, I surely would
I'd rather feel the earth beneath my feet
Yes I would, if I only could, I surely would.
[“El Condor Pasa”, Paul Simon & Art Garfunkel]
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