Segundos Relatos das Minas Gerais


O ônibus virou a esquina e os moradores observavam o estranho evento. Paramos, alguém desceu, foi acertar com os nossos guias a nossa passagem pelo lugar. Os alunos ficaram um pouco agitados, um ou outro olhava pela esquerda do ônibus, uma grande mancha vermelha de terra. Enquanto desciam, eu observei uma certa apreensão neles, eu mesmo devia estar assim, mais uma vez, fui o último a descer a estreita escada do ônibus, me deparei com um senhor que vestia roupas simples, ele me cumprimentou cordialmente, eu idem.
Os alunos já estavam ao largo, seguindo os líderes, entramos no meio de um mato baixo, por uma cerca de arames, andávamos numa fila indiana, o chão vermelho da trilha estendia-se para o meio de um imenso buraco cavado na terra, cavado por mãos. À frente, a escarpa já estava corroída, oxidada pelo homem. Os alunos cercaram o grande desfiladeiro, ouvindo o líder dos mineiros contar o que eles procuravam, o topázio imperial. Eu fiquei estranhado em ver como mesmo as roupas mais simples de nossos alunos contratavam com aquele lugar corroído.
Um senhor cruzou por mim, enquanto eu tirava foto, ele me encarou forte, olhou meus olhos com respeito. Foi diante do grupo, falar com o líder deles, eu fiquei assistindo e tirando mais fotos da turma colorida de alunos. Autorizado pelo líder, o mesmo homem voltou e me perguntou se queria comprar algum topázio, “pra fazer jóia, sua mulher, mãe ou namorada... ela gosta”, eu não queria, não podia, olhei nos olhos dele e disse, “obrigado, mas não vai dar”, ele me agradeceu, e ficou por perto, perguntei quanto tempo estava ali, ele soltou um “a vida toda” em um só sopro. Perguntei se a “lida” estava difícil, ele disse que “difícil é não lidar”.
Andamos mais um bocado. Observando a gente e o espaço, eu entendi o que significava “estudo do meio”, era o mais um verdadeiro contato, um conhecimento que vai além do estudo, passava pela etapa da formalização do conhecimento e chegava a um estágio diverso, vivência.
Quando saímos, um grupo de mineiros veio vender pedrinhas, preciosas como o pão, eu caminhei por entre os alunos e vendedores, falei pouco, ouvi mais. Meninos bem mais novos dali estavam ali vendendo algo, também. Estávamos cercados de meninos, um de nossas alunas ficou no meio deles, eles a respeitavam e ela os tratava com carinho ímpar, era a preciosidade que ela podia oferecer.
Por vezes, algum aluno aproximava-se e mostrava o que tinha comprado, pedia explicação sobre alguma coisa que estava vendo, ouvindo, sentindo. Não tinham entendido bem aquela história toda, aquela gente tudo, aquela vida toda – toda diferente. Eu respondia, observava. Mas, deixava que eles falassem com os mineiros e meninos, percebi que o sabor eles teriam que experimentar.
Ao entorno, vi um senhor mais velho, ele conversava com um outro rapaz sobre uma venda, não havia cinismo naquela pessoa, ele estava feliz por ter vendido uma pedra pra uma “menina bonita... simpática que só, rapaz”.
Alguma aluna me chamou para entrar naquela casinha, onde mineiros faziam refeições. Havia numa sala anexa, uma gasta mesa, iluminação baixa, as pedrinhas coloriam a mesa, os alunos tiravam fotos, discutiam preço e o valor de tudo, os homens do lugar estavam tranqüilos e respondiam tudo.
Subimos numa gruta santa, depois. Aprofundamos nos caminhos, falamos da geologia do lugar. Mas a geologia daquela gente estava apoiada na santa gruta. Eu me benzi com a água oleosa que saía das paredes. Fiz uma promessa.
Ao descer, voltamos para a mina, falamos de política e economia. Mas, o que mais impressionava era a cabeça branca de um homem de 70 anos que trabalhava ao longe. Sem perceber, nós sempre olhávamos para ele; sem perceber, ele sempre olhava para nós. O líder mineiro ironizou: “Quem nasce em dia de São Cadeado”...
Quando saímos definitivamente da mina, homens e meninos, mineiros e viajantes se cumprimentavam mutuamente, amigavelmente, calorosamente. Eram um só. Voltamos, ao ônibus, os alunos diziam adeus e recebiam um até logo.
Aqueles mineiros e meninos e nós viajantes queríamos mais que vender pedras e aprender, queríamos encontrar o olhar de gente, respeito e valor. Corroídos e corrompidos, crianças alunos e crianças mineiros todos são preciosos naquela mina de topázio.

[Conrad Pichler, depois da visita à Mina do Topázio,
arredores de Ouro Preto, Minas Gerais.]

2 comentários:

Anônimo disse...

Você deve estar se perguntando quem sou eu, mas... eu sou a Cristina do 2col. do giordano! É isso aí! A verdade é que quando eu tenho tempo, eu veio aqui e leio os teus posts, mas este em especial, eu gostei MUITO e como foi um lugar que eu também fui (no ano passado)gosto mais ainda do que escreveu, e enfim, comento mais pra dizer que eu gostei do que você escreveu e te parabenizar. Bem, eu acho que é isso. Até mais!

Anônimo disse...

Nha Professor que lindoooooo.....fikei emocionada com o texto sabia?
Nha esse passeio faz um bem atodos que vão viu, sempre da pra refletir onde for, sempre da pra estar em contato com pessoa diferentes da nossa rotina..
O lugar é bunito as pessoas são extremamente simpaticas...
Fui duas vezes e uma vez foi melhor que a outra, é muito bom poder ter esse contato mesmo, que nem o da mina..

Fiquei muito emocionada como vc viu tudo.....