Cuminheira

(foto: Conrad Pichler - edição eletrônica: Kimi Hirota Tumkus
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Tão batendo na porta, mãe. Tão tentando abrir a maçaneta, a porta. A cuminheira está solta, chove escorrido pelo teto. Tem gente querendo entrar, mãe. Mãe. Se ela não acordar no meio da noite, em pesadelo, vai ficar chamando a mãe o dia inteiro. Mãe. Dá medo chegar perto, pedir para sair do sono, abrir as cortinas dos olhos, o olho meio cego. Mãe. O pai está entrando na cabana do sordado, mãe, ele está rindo e dizendo para eu esperar do lado de fora, não zanga comigo quando uso a saia para limpar o nariz choroso. Mãe. Tem gente abrindo a cuminheira, a água passa por debaixo da porta. O sordado saiu me mandando ir embora, eu chorei quietinha, enquanto saía andando de costas. Mãe. O pai está apanhando chuva de dentro da cabana do sordado. Não dá mais pra ele comungar. Mãe. A porta está fechada, tem tempo que mandamos refazer o teto, o pai morreu faz tempo. E ela ainda não acordou do pesadelo, ainda está cega em seu sono. Mãe. Acorda, vó, acorda, que é sonho o que a senhora não vê, não tem porta aberta, nem copo com água para beber. Ah, eu tava sonhando, fi’o.
Meu pai, minha mãe escorrendo por debaixo da porta.
Minha avó.
[Conrad Pichler, novembro de 2007]

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