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Tão batendo na porta, mãe. Tão tentando abrir a maçaneta, a porta. A cuminheira está solta, chove escorrido pelo teto. Tem gente querendo entrar, mãe. Mãe. Se ela não acordar no meio da noite, em pesadelo, vai ficar chamando a mãe o dia inteiro. Mãe. Dá medo chegar perto, pedir para sair do sono, abrir as cortinas dos olhos, o olho meio cego. Mãe. O pai está entrando na cabana do sordado, mãe, ele está rindo e dizendo para eu esperar do lado de fora, não zanga comigo quando uso a saia para limpar o nariz choroso. Mãe. Tem gente abrindo a cuminheira, a água passa por debaixo da porta. O sordado saiu me mandando ir embora, eu chorei quietinha, enquanto saía andando de costas. Mãe. O pai está apanhando chuva de dentro da cabana do sordado. Não dá mais pra ele comungar. Mãe. A porta está fechada, tem tempo que mandamos refazer o teto, o pai morreu faz tempo. E ela ainda não acordou do pesadelo, ainda está cega em seu sono. Mãe. Acorda, vó, acorda, que é sonho o que a senhora não vê, não tem porta aberta, nem copo com água para beber. Ah, eu tava sonhando, fi’o.
Meu pai, minha mãe escorrendo por debaixo da porta.
Minha avó.
Meu pai, minha mãe escorrendo por debaixo da porta.
Minha avó.
[Conrad Pichler, novembro de 2007]
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