Balangandãs e Aqueles dois, até semana que vem...

Essa semana, eu desfrutei do prazer de ir a dois espetáculos, com letra maiúscula: “BALANGANDÃS”, show de Ná Ozzetti (acompanhada pelos músicos Mário Manga, Zé Alexandre Carvalho e Sérgio Reze, além do irmão de Ná, Dante Ozzetti) cantando músicas do repertório de Carmem Miranda; e “AQUELES DOIS”, adaptação teatral de um conto homônimo de Caio Fernando Abreu, feita pelo Cia. Luna Lunera, em cena com os atores Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Rômulo Braga.
Os dois espetáculos são mais que mera adaptação de um repertório ou linguagem para outro contexto ou artifício, são “transcriações”, recriações que buscam reinventar os significados dessas produções já (quase) esquecidas ou até datadas e aguçar os sentidos – os nossos sentidos.

“Eu fiz de tudo para você gostar de mim”

Ná Ozzetti canta o repertório de Carmem Miranda, mas não é Carmem que ouvimos: são só os balangandãs que tilintam na voz de instrumento que dança no ar. Mário Manga fez arranjos de guitarra que quase reinventam aquelas “marchinhas”, perdoem-me o exagero, mas é quase uma revolução tropicalista o que eles fazem com “O tic-tac do meu coração” (de Walfrido Silva), evoluindo para os “recursos teatrais” de “A preta do acarajé” (Dorival Caymmi) e a fina sinfonia de “Adeus Batucada” (Silval Silva), sempre regida pela voz de Ná. No fim, depois do aplauso, na hora do bis, Ná canta “Tahi”, aquela do versinho “eu fiz tudo para você gostar de mim” e nem precisava de tudo, na segunda música já estava apaixonado!

“Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra"

Esta frase, escrita por Cario Fernando Abreu, é o coração do conto “Aqueles dois” e, também, da peça de mesmo nome da Cia. Luna Lunera. Desde seu início, ficamos paralisados com a história de Saul e Raul, quase homônimos, quase opostos, como se sul e norte só tivessem um letra de diferença. Em cena, o efeito dialético – ou dialógico – dos opostos que se complementam são elevados à enésima potência: quatro atores revezam os dois personagens principais e outras tantas vozes que ecoam e se completam, proliferam e se misturam; nesse efeito, Raul e Saul tornam-se indistinguíveis, tornam-se uma síntese: eles mesmos são a representação do amor e da amizade – e do riso, por que não. Além dos recursos cenográficos – desenhos, discos, televisão, vitrolas, gavetas e máquinas de escrever –, dança coreografada à lá teatro físico dos encontros, esbarros e abraços não estão em cena à toa, são elementos cruciais para recriar o movimento dialético dos personagens. Pensando bem, a última coisa que ficamos é “paralisados com a história”, essa encenação nos põe em movimento!

Você pode conferir “Balangandãs” de Ná Ozzetti no TEATRO FECAP (de quinta a sábado, às 21 horas, e domingo, às 19horas, 12 anos, R$15 (meia) e R$30(inteira)) e “Aqueles dois” no SESC AVENIDA PAULISTA (sextas a sábados, às 21h30 e domingo, às 19h, 16 anos, preços variam de R$ 5,00 à R$20,00).

Como disse lá no começo, os espetáculos estarão em cartaz somente até a semana que vem, dia 14 de dezembro.

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